Chama-se de Arquitetura do Renascimento ou renascentista àquela que foi produzida durante o período do Renascimento europeu, ou seja, basicamente, durante os séculos XIV, XV e XVI. Caracteriza-se por ser um momento de ruptura na História da Arquitetura em diversas esferas: nos meios de produção da arquitetura; na linguagem arquitetônica adotada e na sua teorização. Esta ruptura, que se manifesta a partir do Renascimento, caracteriza-se por uma nova atitude dos arquitectos em relação à sua arte, passando a assumirem-se cada vez mais como profissionais independentes, portadores de um estilo pessoal. Inspiram-se, contudo, na sua interpretação da Antiguidade Clássica e em sua vertente arquitetônica, considerados como os modelos perfeitos das Artes e da própria vida.
2. Século XVI. Neste momento, as características individuais dos arquitectos já começam a sobrepor-se às da canonização clássica, o que irá levar ao chamado Maneirismo. Atuam arquitectos como Michelangelo, Andrea Palladio e Giulio Romano.
A importância da perspectiva
O espaço perspéctico.
Um dado importante na definição da espacialidade do Renascimento é a incorporação da perspectiva como instrumento de projeto e da noção do desenho como uma forma de conhecimento.
A principal ruptura com o espaço medieval dá-se a partir do momento em que os arquitetos do Renascimento passam a designar nos seus edifícios um ritmo de percurso em que as regras de desenho do espaço são facilmente assimiladas pelos usuários e estes, a partir de uma análise objetiva do espaço, ainda que em um certo sentido empírica, têm condições de dominá-lo e impor o seu ritmo. O domínio da linguagem clássica, usada para se chegar a estes efeitos de percurso, só se torna possível quando simulado através do projecto pela perspectiva. Como resultado, tem-se um espaço perspéctico, integralmente apreendido pelo observador e cujas relações proporcionais se mostram de forma analítica e objectiva.
Estas novas relações espaciais mostram-se especialmente evidentes quando comparadas com o espaço presente nas catedrais góticas. Nestas, a intenção arquitetônica é a de que o observador, desde o momento em que entra no edifício, seja dominado pelo seu espaço e instantaneamente deseje olhar para cima, procurando um movimento ascendente em busca do Senhor. Noutras palavras, toda a monumentalidade daquele espaço tem a função, entre outras, de possuir o indivíduo e determinar seus desejos, o ritmo de seu passo e a forma como ele usufrui do edifício. No espaço renascentista a intenção é justamente a oposta: não mais o edifício domina o indivíduo, mas este apreende suas relações espaciais e domina o edifício. Noutras palavras, busca-se neste momento aquela que seria chamada de medida do homem.
A tratadística renascentista Inspiração vitruviana ====
Leonardo da Vinci foi um dos artistas inspirados em Vitrúvio. Este desenho (o Homem vitruviano) é a interpretação de da Vinci para as regras proporcionais definidas por Vitrúvio em seus Dez livros da arquitetura.
A recuperação do ideário da arquitetura clássica, inserida na cultura do Renascimento, deveria necessariamente transcender a mera observação da realidade. Ou seja, não se desejava que a arquitetura produzida pelos arquitetos do Renascimento, humanistas que em geral procuravam manter uma imagem erudita e literata, fosse mera reprodução das ruínas greco-romanas. Os arquitetos estavam em busca de um modelo ideal para suas obras, em detrimento dos modelos existentes. Estes modelos precisavam, necessariamente, ser sistematizados e canonizados em uma forma teórica, o que daria origem aos tratados da arquitetura clássica.
Ainda que os primeiros arquitectos do período se tenham inspirado predominantemente nas ruínas greco-romanas, à medida que o Renascimento evoluía, uma série de indivíduos passaram a, sistematicamente, propor (ou recuperar) os cânones e o ordenamento do Classicismo, chegando, eventualmente, até a redigir tratados com conteúdos efectivamente anticlássicos.
A inspiração nas paisagens clássicas em ruínas, na definição do Renascimento, tenha sido bastante importante, a preservação dos "Dez livros da arquitetura" do tratadista romano Marco Vitrúvio Polião, do século I a.C., teve um papel fundamental na difusão das idéias de cânone e ordem. Este foi o único tratado do período clássico que sobreviveu à queda de Roma e à Idade Média, tendo sido copiado e mantido, de forma fragmentada e por vezes precária, em bibliotecas localizadas em mosteiros. Porém, à medida que os volumes eram copiados e traduzidos, os desenhos e esboços que faziam parte dos tratados originais foram se perdendo, de forma que o conteúdo do tratado tendia a se tornar mais confuso e, por vezes, contraditório. Por este motivo, grande parte do esforço tratadístico renascentista será o de recuperar este conteúdo perdido, chegando a propor novos padrões que de forma alguma existiam no tratado original.
O tratado vitruviano, portanto, tanto pela sua "incompletude" naquele momento quanto pelo fato de ser o único grande referencial teórico da arquitetura clássica existente, servirá de base para todos os principais estudos realizados durante o Renascimento. Por exemplo, um trabalho nitidamente derivado do vitruviano são os dez livros de Alberti.
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